Página dedicada a mi madre, julio de 2020

Miguel Torga

Novos contos da Montanha: Mariana

1944

 

 

 

 

– Meu rico filho! Dava-o agora assim de mão beijada! Não que ele custou-me a parir e a criar!…

Julho, era por toda a parte a mesma verdura a ondular e a mesma esperança a sorrir. A terra bebia o sol e a humidade, espremia-se depois quanto podia, e atulhava o mundo de folhas, de flores e de frutos.

Mariana, com o filho ao colo de cabeça a reluzir, ia andando e monologando.

– Não me faltava mais nada! Tenham-nos. Façam por eles, ora o canudo!

No Caleirão, mesmo à beira do caminho, o Júlio Pessanha regava.

– Deus o ajude!

– Vem com Deus…

A enxada nas mãos do trabalhador deu o golpe, e a terra fofa, como uma mulher sôfrega de amor, bebeu de um trago a levada que a beijou.

– Aonde é a ida? – perguntou o Júlio, da leira, enquanto a nascente ia acalmando a embelga.

– Justes – respondeu Mariana, sem convicção. – Justes ou Gache, conforme.

Parara e olhava enlevada o rego de água a correr. Esteve assim algum tempo, enquanto o Júlio a olhava a ela por sua vez, abrasado de calor.

– São horas…

– Tens tempo, mulher!… Espera um migalho, que te acompanho até aí acima…

– O que você quer bem sei eu…

– E então?…

Mariana riu-se, meteu o bico do peito na boca do filho e esperou.

– São só mais três talhadoiros – prometeu o Júlio, apressado no desejo.

– Ande lá…

Calma, sentou-se então numa anteira, com a mão direita a alisar docemente a penugem da criança. Depois, quando o Júlio acabou, ergueu-se e foi caminhando a seu lado, na paz simples de quem ia por bom caminho. Nas minas, pôs a criança à sombra de um carvalho, sobre o xaile, e deitou-se um pouco adiante entre as giestas, onde o Júlio a esperava já…

– Adeus – disse no fim, sem olhar o homem.

– Então adeus…

Pelo caminho fora, na tarde quente, o seu corpo tinha agora uma frescura de terra molhada. O filho, farto, dormia-lhe no colo. E Mariana, feliz, continuou o monólogo interrompido.

– Há cada uma! Dar-lhe o menino! Não faltava mais nada! Umas a tê-los e outras a gozá-los… A gente vê coisas!…

Na veiga de Justes, com olmos à beira do caminho, o corpo e as palavras que dizia perderam-se na sombra da ramagem espessa. E só três anos decorridos é que passou novamente por ali, agora acompanhada de duas crianças, uma menina de peito, e um pequeno, descalço e ruço, que ia levando pela mão.

– Deus o ajude!

– Vem com Deus…

Era o Joaquim Fortunato, no lameiro, a arralar milhão. Nos braços rijos do cavador, o molho de verdura túmida era como um corpo de mulher a tentá-lo.

– Até onde é a ida?

– Pedralva – respondeu Mariana ao calhar. – Ou Jurjais. É conforme…

A pequenita, a babar-se, dormia. O rapazinho, extenuado, aninhou-se na relva do caminho.

– Tu sentas-te? – ralhou Mariana, carinhosamente.

– Tou canchado…

– Deixa descansar o rapaz – disse de lá o Joaquim Fortunato. – Ele merendou?

O pequeno acenou com a cabeça a dizer que não, e o mondador pousou a braçada de relva e foi-lhe buscar pão e queijo.

– Também queres? – perguntou depois a Mariana.

– Se faz favor…

– Mas hás-de então vir cá…

Tinha o farnel ao fundo da leira, à sombra de um freixo que cobria a poça, com a cabaça de vinho metida na água a refrescar. Mariana deitou a filha adormecida no xaile, ao pé do irmão, e saltou a parede.

– Volto já. Não me demoro.

Foi, comeu, e em seguida o mesmo calor que já duas vezes a inundara apareceu-lhe no sangue a uma palavra do Joaquim.

– Com esta não contava eu… – começou ele, a olhá-la e a passar a mão pelo cachaço.

Ela riu-se. E pouco tardou que não sentisse extinto o lume que principiava a queimá-la também.

– Vamos lá embora, meus filhos.

A pequenita olhou-a com os olhos azuis do Júlio Pessanha, sem ver nada. O rapaz é que reparou que a mãe tinha terra nas costas.

– Adeus.

– Até qualquer dia…

O Joaquim Fortunato ficou com o gosto na boca daquele momento inesperado e saboroso. Por isso despediu-se reticente e, sempre que podia, vinha até à veiga na esperança de ver outra vez passar o corpo aberto e generoso de Mariana.

Mas o milho amadureceu, chegou o Inverno, a terra cobriu-se novamente de verdura, e nada de a mulher aparecer.

Andava longe, por termos de Vessadios, e foi em plena serra dos Corvos que uma manhã o Lopo deu por ela a atravessar o rebanho.

– Deus o ajude!

– Vem com Deus…

Trazia agora três filhos, um casal a pé, e nos braços um terroso cachopinho, a cara do Joaquim Fortunato por uma pena.

Era Março e fazia ainda frio. No monte orvalhado, que o pálido sol da manhã ia enxugando devagar, brilhavam teias de aranha, estendidas, a corar sobre os tojos. O pastor acendera uma fogueira. E o fumo das carquejas molhadas subia ao céu lentamente, lasso e voluptuoso.

Aqueçam-se.

Chegaram-se todos às lambras.

Agasalhadas na lã, plácidas, as ovelhas pastavam. O laboreiro, deitado ao pé do borralho, dormitava. Uma contida paz cobria tudo.

– Não te fazia agora por estes sítios – começou o Lopo, a enrolar um cigarro forte.

Mariana sentiu outra vez o sangue a ferver-lhe pelas veias fora. A fogueira precisava de lenha.

– E se nós fôssemos a uma meda de rama, que há ali adiante, buscar um braçado dela?

Mariana calou-se. O lume, por dentro, continuava a queimá-la.

– Põe aí o pequeno – ordenou ele.

Ela obedeceu. E, logo adiante, num valado, sobre gabelas secas de mato, o seu corpo serenou.

– Vamos, meus filhos – disse pouco depois, antes mesmo de deixar cair sobre os tições apagados a caruma que trazia. – Vamos, meus filhos.

Os dois maiores ergueram-se, e o pequenino ficou a olhá-la do chão, inquieto, sôfrego de colo e de peito.

– O rapaz já podia começar a servir… Eu, com a idade dele, guardava cabras… Queres tu deixá-lo comigo? – propôs o Lopo.

– Deixá-lo?!

Pelo caminho fora a palavra soava-lhe como um zumbido atroz nos ouvidos escandalizados.

– Deixá-lo! Há cada uma! Ia agora deixar-lhe o menino!

Nas matas do Vale-Fundeiro o protesto tinha o tamanho e o vigor dos castanheiros sem idade que ali cresciam. E só ao chegarem à veiga de Constantim é que aquela revolta se atenuou, desvanecida pouco a pouco pela verdura sedativa dos lameiros.

– Isto é que é terra! – não se conteve o pequeno mais velho, com o instinto campónio do Custódio, o pai, a brilhar-lhe nos olhos.

– É como as outras, que mais tem? – respondeu Mariana, sem atingir a fundura do grito.

– Olhe lá que não seja!

Mariana não podia entender a voz ancestral que irrompia da natureza virginal do filho. A terra parecia-lhe una, indivisível, nivelada na mesma serenidade e no mesmo destino de criar. Aqui, ali, acolá, cerros ou descampados, várzeas ou costeiras, eram sítios iguais, que calcorreava sem distinguir a qualidade do barro que se lhe agarrava aos pés. Compreendia tudo, menos o afeiçoamento da perdiz ao monte nativo. Todos os horizontes lhe acenavam da mesma maneira. Em qualquer mata miúda paria naturalmente e atrás de qualquer parede recebia a seiva de uma nova vida. Não. Nem entendia o rapaz a gabar os lameiros de Constantim, nem a sensualidade do Jeremias Manso a querer fazer dela um simples instrumento de prazer.

– Outra vez… – pedia ele, ao vê-la erguer-se, honesta e pura como uma leiva semeada.

Nem sequer respondeu. Saiu do centeio, pôs-se a frente da ninhada, e retomou o caminho da sua aventura.

Só em Ordonho abrandou a marcha.

– Quantos são ao todo? – perguntou o Raul, que já não via bem, quando o rancho lhe passou à porta.

– Sete – respondeu o cunhado.

– Valha-nos Deus! Que desgraça! As raparigas estão mulheres feitas e a mãe a dar-lhes um exemplo daqueles…

Mas já Mariana ia longe, alheia ao zelo do velho sátiro. Pedia: se davam, davam; se não davam, deixava os filhos matar a fome nos soutos, nos pomares ou nas vinhas, e a quem tentava, de uma maneira ou doutra, dividir a perfeita unidade que formava com a prole, respondia a rugir como uma leoa ferida.

– Criada?! Ia-lhe agora dar a menina para criada! A gente vê cada uma! De lhe comprar um farrapo para se vestir, não se lembrou a senhora. Criada! Que conveniência!… A servir ponha as filhas, se não lhes tem amor… Agora as minhas, está bem livre!

Ia já nas matas do Bouço e a indignação continuava ainda.

– Criada!

A palavra, dita por intenção da sua Zulmira, parecia-lhe um insulto sem perdão.

– Fala à gente!…

Mariana nem o olhar se dignou concentrar no rosto desejoso do Lopo. O seu ventre estava já fecundado pelo Guilherme da Póvoa, e o Lopo, como os outros, passada a hora, não significava nada, nada, na sua lembrança. A pureza com que se entregava tocava-os de uma força criadora e irresponsável que os imaterializava como deuses distantes. A terra humilde era ela. Eles actuavam apenas como o vento, que traz a semente, e passa. Mas todos teimavam em permanecer ligados ao doce sabor de um minuto, e queriam-na segunda vez.

– Nos montes de Vessadios, não te lembras?

– Vossemecê está maluco! Eu conheço-o lá!

O Lopo não queria acreditar no que ouvia. E por orgulho ofendido, frouxo aceno do sangue e mágoa de solitário, teve um gesto:

– Conheças ou não conheças, já pariste de mim. Por isso, quero o pequeno.

– Que pequeno?!! – perguntou Mariana, assombrada.

– Aquele. O chegado à de vestido às riscas.

– O meu Jorge?! O homem é doidinho! Os filhos são meus, muito meus! Atreva-se a pôr-lhes a mão, se quer ver…

O pastor tinha-se aproximado, num desejo irresoluto de tirar da touceira a vergôntea que lhe pertencia. Não o empurrava nenhum impulso profundo. Era uma reacção de momento, sem calor verdadeiro. E como Mariana parecia uma cabra das dele, pronta a marrar às cegas contra o cão que lhe farejasse a cria, deteve os passos que dera sem convicção.

Bem, está bem… Mais perde… – disse então, a justificar a debilidade do seu apego ao andrajoso ser a que tinha ajudado a dar vida. – És parva…

Mariana sorriu. E seguida do rebanho inteiro, lá partiu para Valongueiras, à esmola de sábado em casa do Sr. Vitorino.

– Essa mulher continua na mesma vida? – perguntou na sala a Marília, que acabara de chegar do colégio com um selo branco na virgindade.

– Pois continua…

– Pouca vergonha maior!

– Que se lhe há-de fazer?

– Tirar-lhe as crianças e metê-las num asilo.

– Deixa-te de asilos! – reprovou o Sr. Vitorino, que tivera uma meninice aperreada.

– Então chamar à ordem os responsáveis!

– Vai-lhe lá falar nisso!…

– E é que vou mesmo!

Ergueu-se cheia de zelo, e foi direita como uma heroína ao encontro do lodaçal.

Rodeada do bando, Mariana comia em paz na cozinha o caldo caridoso.

– Estás boa?

– Muito agradecida. Cá vou andando…

– Olha lá, os pais dos pequenos não tomam conta deles?

Mariana sorriu, cheia de uma inocência que a outra não entendia. E respondeu, na sua pureza:

– Saiba a menina que não têm pai… São só meus.

Nuevos cuentos de la Montaña: Mariana

Versión agosto de 2014

Texto original y versión española publicadoss con la autorización de los herederos del autor. El texto original reproduce el de la edición Contos, Miguel Torga, Publicações Dom Quixote, 20095, pp. 435-441.

 

– ¡A mi lindo hijo! ¡Ahora mismo se lo daba yo así, de balde! ¡Con lo que me ha costado parirlo y criarlo!…

Era julio, por todos lados el mismo verdor ondulando y la misma esperanza sonriendo. La tierra se bebía el sol y la humedad, luego se exprimía cuanto podía, y abarrotaba el mundo de hojas, de flores y de frutas.

Mariana, con el hijo – al que le brillaba aún la piel de la cabeza – en los brazos, iba andando y monologando.

– ¡Eso es lo que me faltaba! Tenedlos vosotros. Hacedlos vosotros, ¡qué lata!

En Caleirão, justo al borde del camino, Júlio Pessanha regaba.

– ¡Que Dios lo ayude!

– Vaya con Dios…

La azada en la mano del trabajador dio el golpe, y la tierra blanda, como una mujer ansiosa de amor, se bebió de un trago la corriente que la besó.

– ¿Adónde es la ida? – preguntó Júlio desde el bancal, mientras el manantial iba calmando la tierra.

– A Justes – respondió Mariana, sin convicción. – A Justes o a Gache, depende.

Se había detenido y miraba embobada el surco del agua corriendo. Estuvo así algún tiempo, mientras Júlio la miraba a su vez, abrasado de calor.

– Ya es hora…

– ¡Tienes tiempo, mujer!… Espera un poquito, que te acompaño hasta ahí arriba…

– Bien sé yo lo que usted quiere…

– Y entonces…

Mariana se rio, puso el pezón del pecho en la boca del hijo y esperó.

– Solo son tres bancales más – prometió Júlio, precipitado por el deseo.

– Vamos…

Tranquila, se sentó entonces en una estera, con la mano derecha alisando dulcemente la pelusilla del niño. Después, cuando Júlio acabó, se levantó y se fue caminando a su lado, en la paz simple de quien iba por buen camino. Junto a las fuentes, puso al niño a la sombra de un roble, sobre el chal, y se echó un poco delante entre las retamas, donde Júlio la esperaba ya…

– Adiós – dijo al fin, sin mirar al hombre.

– Entonces, adiós…

Camino adelante, en la tarde cálida, su cuerpo tenía ahora el frescor de la tierra mojada. El hijo, harto, dormía en sus brazos. Y Mariana, feliz, continuó el monólogo interrumpido.

– ¡Hay cada uno! ¡Darle al niño! ¡Eso es lo que faltaba! Unos a tenerlos, y otros a gozarlos… ¡A la gente se le ocurre cada cosa!…

En la vega de Justes, con olmos al borde del camino, el cuerpo y las palabras que decía se perdieron en la sombra del ramaje espeso. Y solo tres años después es cuando volvió a pasar de nuevo por allí, ahora acompañada de dos niños, una niña de pecho, y un pequeño, descalzo y pelirrojo, al que llevaba de la mano.

– ¡Que Dios lo ayude!

– Vaya con Dios…

Era Joaquim Fortunato, en la ciénaga, que estaba entresacando el maíz. En los brazos fuertes del cavador, el haz de las plantas hinchadas era como el cuerpo de una mujer que lo tentara.

– ¿Adónde es la ida?

A Pedralva – respondió Mariana al acaso. – O a Jurjais. Depende…

La pequeñita, babeando, dormía. El muchachito, extenuado, se acurrucó en la hierba del camino.

– ¿Qué haces, te sientas? – le riñó Mariana, cariñosamente.

– Toy cansao… – Deja que el muchacho descanse – dijo desde allá Joaquim Fortunato. – ¿Ha merendado?

El pequeño indicó que no con la cabeza, y el podador soltó la brazada de hierba y fue a buscar para él pan y queso.

– ¿Quieres tú también? – le preguntó luego a Mariana.

– Con mucho gusto…

– Pero entonces tienes que venir aquí…

Tenía el morral al fondo del bancal, a la sombra de un fresno que cubría el charco, con la calabaza de vino metida en el agua para que se refrescara. Mariana puso a la niña dormida sobre el chal, junto al hermano, y saltó la pared.

– Vuelvo ya. No tardo.

Fue, comió, y enseguida el mismo calor que ya la había inundado dos veces apareció en su sangre ante una palabra de Joaquim.

– Con esto no contaba yo… – comenzó él, mirándola y pasándose la mano por la nuca.

Ella se rio. Y poco tardó en sentir apagado el fuego que empezaba a quemarla también.

– Vámonos, hijos.

La pequeñita la miró con los ojos azules de Júlio Pessanha, sin ver nada. El muchacho es el que advirtió que la madre tenía tierra en la espalda.

– Adiós.

– Hasta otro día…

Joaquim Fortunato se quedó con el gusto en la boca de ese momento inesperado y sabroso. Por eso se despidió reticente y, siempre que podía, venía hasta la vega con la esperanza de ver pasar otra vez el cuerpo abierto y generoso de Mariana.

Pero el maíz maduró, llegó el invierno, la tierra se cubrió nuevamente de verdor, y nada de que la mujer apareciera.

Andaba lejos, por tierras de Vessadios, y fue en plena sierra de los Corvos donde una mañana Lopo se encontró con ella mientras cruzaba con el rebaño.

– ¡Que Dios lo ayude!

– Vaya con Dios…

Traía ahora tres hijos, una pareja a pie, y en los brazos, un mocito moreno, casi con la cara de Joaquim Fortunato.

Era marzo y aún hacía frío. En el monte rociado que el pálido frío de la mañana iba secando despacio, brillaban las telarañas, extendidas, secándose sobre las aulagas. El pastor había encendido una hoguera. El humo de las carquejas mojadas subía al cielo lentamente, débil y voluptuoso.

– Caliéntense.

Se acercaron todos al fuego.

Abrigadas por la lana, plácidas, las ovejas pastaban. El laboreiro,1 echado junto a la lumbre, dormitaba. Una paz contenida lo cubría todo.

– No te imaginaba ahora por estos sitios – comenzó Lopo, liando un cigarro fuerte.

Mariana sintió otra vez que le hervía la sangre en las venas. La hoguera necesitaba leña.

– ¿Y si fuéramos a un almiar de ramas que hay ahí delante a buscar un puñado de ellas?

Mariana se calló. El fuego, por dentro, continuaba quemándola.

– Pon ahí al pequeño – le ordenó él.

Ella obedeció. Y, más adelante, en una cerca, sobre gavillas secas de matorral, su cuerpo se serenó.

– Vamos, hijos – dijo poco después, antes incluso de que se le cayeran sobre los tizones apagados la hojarasca que traía. – Vamos, hijos.

Los dos mayores se levantaron, y el pequeñito se quedó mirándola desde el suelo, inquieto, ansioso de brazos y pecho.

– El muchacho ya podía comenzar a servir… Yo, a su edad, guardaba cabras… ¿Quieres dejarlo conmigo? – propuso Lopo.

– ¡¿Dejarlo?!

Por el camino, la palabra sonaba como un zumbido atroz en sus oídos escandalizados.

– ¡Dejarlo! ¡Hay cada uno! ¡Enseguida iba yo a dejarle al niño!

En los bosques de Vale-Fundeiro la declaración tenía el tamaño y el vigor de los castaños sin edad que allí crecían. Y solo al llegar a la vega de Constantim se atenuó esa indignación, desvanecida poco a poco por el verdor apacible de las ciénagas.

– ¡Esto sí que es tierra! – no se contuvo el niño mayor, con el instinto campesino de Custódio, el padre, brillándole en los ojos.

– Es como las otras, ¿qué tiene de más? – respondió Mariana, sin comprender la hondura del grito.

– ¡Mire que no es así!

Mariana no podía entender la voz ancestral que irrumpía de la naturaleza virginal del hijo. La tierra le parecía una, indivisible, nivelada en la misma serenidad y en el mismo destino de crear. Aquí, allí, allá, cerros o descampados, vegas o sierras, eran sitios iguales, que ella recorría sin distinguir la calidad del barro que se le pegaba a los pies. Lo comprendía todo, menos la querencia de la perdiz por el monte nativo. Todos los horizontes le impresionaban del mismo modo. En cualquier bosque menudo paría con naturalidad, y detrás de cualquier pared recibía la savia de una nueva vida. No. Ni entendía al muchacho que elogiaba las ciénagas de Constantim, ni la sensualidad de Jeremias Manso que quería hacer de ella un simple instrumento de placer.

– Otra vez… – le pedía él, al verla levantarse, honesta y pura como un terruño sembrado.

Ni siquiera respondió. Salió del centeno, se puso al frente de la camada y retomó el camino de su aventura.

Solo en Ordonho ablandó la marcha.

– ¿Cuántos son en total? – preguntó Raul, que ya no veía bien, cuando el grupo pasó por su puerta.

– Siete – respondió el cuñado.

– ¡Válganos Dios! ¡Qué desgracia! Las muchachas ya son mujeres, y la madre dándoles ese ejemplo…

Pero Mariana ya iba lejos, ajena al celo del viejo sátiro. Pedía: si daban, daban; si no daban, dejaba que los hijos mataran el hambre en los sotos, en los frutales o en las viñas, y a quien intentaba, de un modo o de otro, romper la perfecta unidad que formaba con su prole, le respondía rugiendo como una leona herida.

– ¡¿Criada?! ¡Ahora mismo le daba yo a la niña como criada! ¡A la gente se le ocurre cada cosa! De comprarle un trapo para que se vistiera no se acordó la señora. ¡Criada! ¡Qué interés!… A servir, ponga a sus hijas, si no les tiene afecto… ¡Por las mías, bien tranquila puede estar!

Iba ya por los bosques de Bouço y la indignación perduraba aún.

– ¡Criada!

La palabra, dicha a propósito de su Zulmira, le parecía un insulto sin perdón.

– ¡Háblale a la gente!…

Mariana ni se dignó a detener la mirada en el rostro de Lopo. Su vientre estaba ya fecundado por Guilherme da Póvoa, y Lopo, como los otros, pasada la hora, no significaba nada, nada, en su recuerdo. La pureza con que se entregaba los tocaba con una fuerza creadora e irresponsable que los inmaterializaba como dioses distantes. La tierra humilde era ella. Ellos actuaban apenas como el viento que trae la semilla y pasa. Pero todos insistían en permanecer unidos al dulce sabor de un minuto, y la querían por segunda vez.

– En los montes de Vessadios, ¿no te acuerdas?

– ¡Usted está chiflado! ¡Yo ni lo conozco!

Lopo no podía creer lo que oía. Y por orgullo ofendido, débil señal de la sangre y de la pena del solitario, tuvo un gesto:

– Me conozcas o no, ya tuviste un hijo mío. Por eso, quiero al niño.

– ¡¡¿Qué niño?!! – preguntó Mariana, espantada.

– Ese. El que está junto a la del vestido de rayas.

– ¡¿Mi Jorge?! ¡Usted está loco! ¡Los niños son míos, muy míos! Atrévase a tocarlos, si quiere ver…

El pastor se había aproximado, en un deseo indeciso de sacar de la cepa al retoño que le pertenecía. No lo movía ningún impulso profundo. Era la reacción de un momento, sin calor verdadero. Y como Mariana parecía una cabra de las suyas, dispuesta a cornear a ciegas al perro que le oliese la cría, él detuvo los pasos que había dado sin convicción.

– Bien, está bien… Pero sale perdiendo… – dijo entonces, justificando la debilidad de su apego al andrajoso ser al que había ayudado a darle la vida. – Eres idiota…

Mariana sonrió. Y seguida por el rebaño completo, se marchó a Valongueiras, a la limosna del sábado en casa del Sr. Vitorino.

– ¿Esa mujer sigue con la misma vida? – preguntó en la sala Marília, que acababa de llegar del colegio con un sello sin tinta en la virginidad.

– Así sigue…

– ¡Qué poca vergüenza!

– ¿Qué vamos a hacer?

– Quitarle a los niños y meterlos en un asilo.

– ¡Déjate de asilos! – reprobó el Sr. Vitorino, quien había tenido una niñez atormentada.

– ¡Entonces, llamar al orden a los responsables!

– ¡Ve a hablarles de ello!

– ¡Pues claro que voy!

Se levantó llena de celo, y fue derecha como una heroína al encuentro del lodazal.

Rodeada de su cuadrilla, Mariana tomaba en paz, en la cocina, el caldo de la caridad.

– ¿Estás bien?

– Sí, muchas gracias. Voy tirando…

– Mira, ¿los padres de los niños no se ocupan de ellos?

Mariana sonrió, llena de una inocencia que la otra no entendía. Y respondió, en su pureza:

– Niña, sepa que ellos no tienen padres… Son solo míos.

 

1 Perro de Castro Laboreiro, raza originaria del norte de Portugal, utilizado principalmente para guardar los rebaños.

©Todos los derechos reservados. Desarrollado por Centro Informático Millenium